Do Diário do Comércio
A complexidade das relações internacionais e as possíveis consequências das ações econômicas norte-americanas mantêm o cenário global em constante evolução e requerem atenção contínua dos países e líderes políticos. A análise do ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos Rubens Barbosa, atual presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior, se apoia na tese de que o mundo vive o início de uma era protecionista, após um período de expansão do liberalismo e da globalização.
Segundo ele, não se trata mais de uma guerra ideológica, como na Guerra Fria. Agora, a tensão está voltada para a área econômica, comercial e, principalmente, tecnológica - e as condições estão mudando de acordo com os interesses das grandes potências. Na visão do ex-embaixador, o caminho mais indicado para o Brasil se beneficiar da nova realidade do comércio global seria traçar um plano estratégico de desenvolvimento, acelerar reformas para aumentar a produtividade e reduzir custos de produção.
Em sua explicação, Barbosa cita que, com o retorno de Donald Trump ao cenário político, seja em sua primeira eleição (em 2017) ou nos primeiros seis meses de seu segundo mandato, a palavra de ordem é protecionismo. A implementação de tarifas massivas pelos Estados Unidos transformou completamente o panorama econômico global, introduzindo desafios e incertezas inéditas para países que antes se beneficiavam de uma previsibilidade ditada por instituições como o Itamaraty, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC).
Antes consideradas pilares da ordem global, Barbosa diz que essas instituições tiveram suas interferências progressivamente esvaziadas, com nações como os Estados Unidos optando por conduzir suas próprias políticas comerciais, ignorando os mecanismos multilaterais. No âmbito político, a situação não é diferente. A ONU, antes vista como um fórum para a discussão da paz e segurança global, perdeu a relevância política. A incapacidade do Conselho de Segurança em mediar soluções para conflitos como a guerra na Ucrânia, as questões no Irã e outras tensões regionais, demonstram uma desabilitação da organização, segundo o ex-embaixador.
Com guerras em curso e tensões políticas acirradas, a competição por hegemonia política, tecnológica e comercial entre Estados Unidos e China, por exemplo, se desenrolam sem a possibilidade de uma arbitragem internacional efetiva. Nesse vácuo de governança global, surgem novos fenômenos de influência regional.
“A China, por exemplo, consolidou sua influência com dois grandes acordos de livre comércio em sua área de atuação, um deles abrangendo 16 países. Além dos blocos econômicos, novas organizações políticas emergem, como grupos liderados pela Rússia e pela China na Ásia", disse o ex-embaixador em palestra no Conselho Político e Social (Cops), da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), na segunda-feira, 7.
O Brasil na contramão
Nesse contexto de profundas transformações, a posição do Brasil na política externa é de preocupante inércia, “somos o primo pobre que ninguém dá a menor bola", define Barbosa. Apesar de ser uma das dez maiores economias do mundo, o ex-embaixador acredita que o país não dá a devida importância aos fatores externos que cada vez mais influenciam sua realidade. A agenda nacional, segundo ele, se limita a problemas políticos e econômicos internos, com pouca preocupação em relação à inserção do Brasil no mundo. O resultado é um país cada vez mais vulnerável às determinações externas.
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